Neste artigo vou abortar o conceito de investimento tratando de diversas vertentes desde o conceito mais abrangente até conceitos específicos como das finanças, da contabilidade, de economia e nas relações sociais.
Nas empresas ou na vida entendo que a ideia de investimento é aplicada de forma análoga mas cada um com suas particularidades específicas.
No dia a dia quantas vezes já nos deparamos com as expressões: “Isso não é um gasto, é um investimento!”, ou “Nós realizamos um grande investimento na empresa!”, ou “Faça um investimento em você!”.
Há uma maneira errônea de se expressar gasto com investimento. Conforme conceitos contábeis, um gasto é uma compra de um produto ou serviço qualquer, que gere sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro) (MARTINS, ELISEU, Contabilidade de Custos, 2006). Todo investimento é um gasto desde que seja realizado através de um desembolso financeiro para sua aquisição. Mas nem todo gasto é um investimento pois pode ser também uma despesa ou custo. Gasto é um conceito amplo de desembolso financeiro que abrange tanto investimentos, despesas, imobilizados e custos.
Dessa forma, um investimento pode também não ser considerado um gasto quando é resultado da troca de um bem intangível como o tempo por exemplo. Muitas vezes paramos para analisar e pensar sobre algo importante na nossa carreira ou nas nossas empresas. Este tempo que pode ser determinante para uma decisão importante, para ser considerado um investimento deve gerar resultados positivos por si só em função dos benefícios que vão se obter de retorno dessa análise.
Mas qual o conceito global de investimento afinal? A maioria dos conceitos globais de investimento fazem alusão às finanças como sendo toda aplicação de recursos financeiros que resulte em um lucro maior que o capital investido. Mas ao analisarmos a essência do conceito, não podemos nos prender apenas aos conceitos financeiros. Acredito que todo desembolso de recursos, sendo que esses recursos entenda-se como monetários ou não monetários, como o tempo por exemplo, que resulte em benefícios mensuráveis que sejam maiores que o capital investido, posso considerar que seja um investimento.
Todo investimento pode ser grande, pequeno, complexo, simples, convencional, não convencional, estruturado, desestruturado, curto prazo, longo prazo, entre outras formas de sua apresentação e realização. Mas o resultado deste investimento é somente um, que seja remunerado o retorno do capital investido acrescentado de rentabilidades sem que haja novas aplicações de recursos que condicionem a este resultado positivo.
O conceito de investimento é amplo quando se analisado por várias áreas de atuação. Nas finanças, na contabilidade, na economia, na vida social as abordagens são parecidas no que tange ao benefício resultante da operacionalização do investimento, mas distintos sobre a essência e origem da aplicação.
Nas finanças
Nas finanças temos os investimentos em Bolsa de Valores como sento a abordagem mais comum sobre o tema. O investimento financeiro representa a aquisição de ações, letras de câmbio entre outros. O principal objetivo do investimento financeiro é repor o valor de compra repondo as desvalorizações com a inflação.
Outra vertente de investimento dentro da seara das finanças está relacionada à avaliação de empresas ou Valuation. Segundo DAMONDARAN, Aswath em seu livro Avaliação de Empresas o princípio fundamental de um investimento sólido é que o investidor não pague por um ativo mais do que ele vale. Dessa forma o conceito de valor se faz necessário para complementar o princípio de investimento. O valor percebido deve ser sustentado pela realidade, o que implica que o preço a pagar por qualquer ativo reflita os fluxos de caixa a serem gerados, finaliza Damondaran.
Na contabilidade
Sobre a literalidade do termo investimento podemos encontrar esta abordagem em alguns pronunciamentos contábeis. As normas internacionais de Contabilidade adaptadas para a Contabilidade Brasileira através de pronunciamentos, o Pronunciamento Contábil 18 que trata de investimento em empresas coligadas e controladas aborda o investimento como sendo a aquisição de parte de uma empresa que deve ser registrado o resultado deste investimento pelo método de equivalência patrimonial que absorve os resultados gerados pela empresa investida na investidora. Há uma segregação entre o valor pago e o valor justo dos ativos líquidos adquiridos. No CPC 28 sobre Propriedade para Investimento o conceito de investimento é abordado pela aplicação de recursos em um imóvel como propriedade para investimento onde o objetivo é a obtenção de rendas e/ou valorização do capital.
Em uma abordagem gerencial , no livro A Meta de Eliyahu Goldratt, Rogo explica o conceito de investimento a Jonah seu mentor onde a aquisição de uma máquina era capaz de produzir peças com melhor qualidade. Jonah o fez pensar sobre o conceito de produtividade e qualidade. Uma simples pergunta de Jonah a Rogo o fez refletir quando o questionou sobre quantas peças aumentaram da quantidade diária produzida. Rogo diz que a quantidade não foi alterada mas a qualidade está sendo superior. Para Jonah um investimento só pode ser considerado como tal quando há um retorno que se reflita em resultado real que vá consequentemente gerar melhores resultados para a empresa. Como a máquina não estava gerando melhores resultados, esta máquina estava sendo considerada como uma despesa na visão de Jonah e não um investimento como Rogo imaginava.
Outra abrangência que mescla termos contábeis com financeiros é a utilização dos instrumentos contábeis para análise das demonstrações por entidades financeiras para se realizar análises de decisões de investimento. Uma empresa pode estar necessitando de recursos para sua manutenção, capital de giro por exemplo, com isso, os Bancos tendem a analisar as demonstrações financeiras das empresas sob uma ótica de investidores para avaliar o grau de risco que será o termômetro para estabelecimento das quantidades e níveis de recursos que serão aplicados (investidos) nesta entidade. Com isso, as financeiras ou Bancos querem obter resultados futuros positivos através de juros e rendimentos, com a aplicação de recursos monetários em uma empresa e também o retorno do capital aplicado.
Na economia
Já em uma abordagem econômica, um investimento pode ser considerado todo capital desprendido no desejo de se obter lucro. Um investimento pode possuir três vertentes sendo: rendimento esperado, rendimento aceito e horizonte temporal (quando terá os resultados). Um investimento só é considerado como tal a partir do momento em que há o retorno superior aceitável ao capital investido. Uma máquina adquirida para uma indústria em um primeiro momento, efetivamente é caracterizado como uma despesa ou imobilizado pois o retorno ainda não foi realizado.
Quando analisamos o ponto de vista econômico mas sob a ótica política de investimento, precisamos recorrer a lei 4.320/ para exemplificar seu conceito. Conforme o art. 12 parágrafo 4º Classificam-se como investimentos as dotações para o planejamento e a execução de obras, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis considerados necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e constituição ou aumento do capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. Aqui a característica de investimento muda um pouco onde o poder público com sua função de servir a população, condiciona o investimento aos bens de capital que viabilizem a operacionalização do dever do estado.
Na vida social
Quando você opta por fazer um curso que é algo intangível com um resultado também intangível que não pode ser mensurável, devemos ter muito cuidado ao caracterizar este desembolso financeiro como sendo um investimento ou uma despesa.
Quando se diz “Invista em você!” “ Técnica X que irá aprender aqui pode mudar a sua vida e por esse motivo este é o maior investimento que você pode fazer em sua vida!” tem que se analisar por diversos ângulos em função do retorno superior ao capital investido ser retornado sem que haja novos esforços para sua realização.
Um curso no valor de R$ 1.000,00 só poderá ser considerado um investimento à medida que, ao final, retorne para seu investidor um capital superior aos R$ 1.000,00 aplicados neste negócio. Em um curso que ao final há um sorteio onde por sorte seja contemplado com um prêmio mensurável de valor superior ao capital investido, neste momento é coerente considerar este gasto como um investimento. Quando se aplica um valor em algo em que o risco de retorno seja comprometido por incertezas ou condicionado a uma operacionalização de uma técnica, é passível de questionamentos sobre a real classificação deste gasto que poderá ser considerado um treinamento ou uma capacitação e não um investimento.
Considerando todos os pontos abordados, fica evidente que todo investimento para ser caracterizado como tal, deve ter como resultado o retorno do capital investido, que tem diversos propósitos e finalidades, acrescentado de uma remuneração ao investidor sem que haja qualquer esforço subsequente para sua viabilização ou realização.